domingo, 22 de setembro de 2019

A CARTA DE UM MARGINAL - Lucas Evangelista


Recebi pelo correio
Carta de um hospital
Dizendo ser de um cliente
Que passava muito mal
Do qual eu já tinha lido
O seu nome em um jornal.

Dizia: caro poeta
Só você que tem memória
Pode transformar em versos
Minha fracassada história.

Meu destino veio traçado
Com a minha formação
O ventre que me gerou
Foi vítima da traição
Fui maldito desde o dia
Da minha concepção.

Passei por cima da pílula
Fui gerado em desconforto
Minha mãe tomou remédio
Pra ver se eu nascia morto.

Vim ao mundo por acaso
E não conheci meus pais
Fui jogado em um cerrado
Em pedaços de jornais
A polícia achou-me quando
Procurava marginais.

Alguém de mim tomou conta
Me fazendo uma esmola
Me criaram como filho
E me botaram na escola.

Não quis saber de trabalho
Estudar não dei valor
Sempre desobedecendo
Ao meu superior
Batia nos meus colegas,
Xingava meu professor.

Peguei o vício da droga
Junto com a curriola
Já fumei erva maldita
Mesmo dentro da escola.

Fui expulso do colégio
Por traficância ilegais
Desonrei uma menor,
Fugi da casa dos pais
E parti para a pesada
Num grupo de marginais.

Não conto tudo a muito
Porque meu tempo não dar
Não quis nada com trabalho
Meu negócio era roubar.

Na vida de assaltante
Todos temiam a mim
Fui terror da noite escura
Fiz tudo que fui ruim
Um germe assim como eu
Só presta levando fim.

Sempre fugindo de cerco
E matando de emboscada
Seduzi muitas donzelas
Fiz assalto à armada.

Naquele mesmo lugar
Onde eu fui encontrado
Pala ronda da polícia
Há muito tempo passado
Me escondo dum assalto
Por ela fui baleado.

A bala entrou no meu peito
Me feriu no coração
Já fizeram muito esforço
Mas não tenho salvação.

Não te escrevo mais porque
Minha vista está tão pouca
Falar também eu não posso
Minha garganta está rouca:
Termino a cata botando
Muito sangue pela boca.



terça-feira, 10 de setembro de 2019

RECONHECIMENTO - Vicente Reinaldo

Os poetas que morreram,
Não sei se estão me escutando,
Mas eu agradeço a todos
Que, com Deus, estão morando,
Por terem feito os caminhos,
Os quais eu vivo trilhando.

Pernambuco está chorando
A morte de Antônio Marinho,
A Paraíba soluça
Lembrando de Canhotinho
E o Ceará não esquece
De Expedito Sobrinho.

Quando emudece um pinho
O Mundo chora de dó
Assim, como o Pajeú
Chorou por Zeca Filó
E São José do Egito
Por Louro, Dimas e Jó.

O Sertão chora com dó
De Xudu, o rei da rima,
Monteiro ainda está triste
E sentindo o pesado clima
Da morte dos irmãos Pinto
E Lino Pedra Azul de Lima.

Cancão foi mestre da rima
Como fora Zé Faustino,
Quem é que não tem saudade
Do grande Zé Bernardino,
De Rogaciano Leite
E de Joaquim Vitorino?

Ercílio e João Paulino
Foi-se, cada um, num dia...
E Severino Ferreira
Foi lhes fazer companhia
Depois, a morte levou
Nosso Eliseu Ventania.

Aderaldo foi-se, um dia
Depois, Vicente Granjeiro,
José Amâncio deixou
Saudade pra Limoeiro
E Boa Viagem soluça
Por José Mota Pinheiro.

O Nordeste brasileiro
Para sempre, vai lembrar
Quem foi Josué da Cruz,
Repentista popular,
“Mané” Francisco e Cotinha
E o grande José Gaspar.

sábado, 7 de setembro de 2019

AMOR MATERNO - José Gonçalves



Inspirai-me Musa Santa
Pelo menos um segundo
Para descrever com calma
Um amor puro e profundo
A quem quero referir-me
É a minha mãe querida
Descrever algo da vida
Do ser que me trouxe ao mundo.

Já cantei trovas de amor
De ilusão e saudade
Decantei mágoas alheias
Por questão de amizade
Vou referir-me a um amor
Dos outros bem diferente
Quero exaltar o vivente
Que ama sem falsidade.

É a mãe o ser que mais ama
De alma e coração
Se acaso o filho erra
Só ela dá-lhe o perdão
Por mais ingrato que seja
Ela não o deixa a toa
Abraça o filho e perdoa
A mais negra ingratidão.

Se é que o filho erra
A mamãe lhe compreende
Mesmo tomada de mágoas
O filho chama ela atende
Sente a alma ferida
Quando um parente abusa
O pai com raiva lhe acusa
E a mãe chorando o defende.

Se o filho sai de casa
Seja só ou com alguém
Ela medita consigo
Saiu meu filho meu bem
Chora, anda, pensa e reza
Não há nada que a conforme
Pobre coitada não dorme
Enquanto o filho não vem.

Se acaso está distante
O filho que Deus lhe deu
Sem ter notícia ela diz
Que é feito do filho meu
Será que é vivo ou morto
Põe sobre a mão um rosário
E em frente ao Santuário
Reza para o filho seu.

O filho é farrista e sai
Deixa a pobre mãe sentindo
Volta alta madrugada
Só ela não está dormindo
Bate na porta ela abre
Ao vê-lo foge o desgosto
O pranto banhando o rosto
E os meigos lábios sorrindo.

O filho não avalia
O quanto uma mãe padece
Quando o filho está doente
Ela ao lado permanece
Todos dormem e ela fica
Ao lado do travesseiro
Mas este amor verdadeiro
É raro quem reconhece.

Se acaso o filho vai preso
Ela sai pela cidade
Batendo de porta em porta
Ocupando autoridade
Se ninguém tirar seu filho
Daquela triste enxovia
Por seu gosto ficaria
Com ele ao pé da grade.

Bondosa querida mãe
És do filho a protetora
Se vê o seu filho triste
És tu a consoladora
O filho não avalia
As negras dores que sentes
Entre todos os viventes
Tu és a mais sofredora.

Oh! Santa querida mãe
Guardas na alma o retrato
Do filho por quem sofreste
Angústia dor e maltrato
E eu sem compreender
O que estavas sofrendo
A agora que estou sabendo
O quanto fui filho ingrato.

Oh! mãe teu sincero amor
É sincero e não tem fim
Envio-te estes versos
Que estou cantante assim
São arrancados do peito
Com dores e nostalgias
Em paga das agonias
Que padecestes por mim.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

BOTE A LUZ DO PERDÃO EM SUA VIDA - Vicente Reinaldo

Nosso corpo carnal é um bagulho
E só a alma pra Deus possui valor,
A inveja, a maldade e o rancor
Lá no Céu valem menos que entulho
Ao despirmos a roupa do orgulho,
Na presença de Deus somos iguais
E é na forja das tendas divinais
Que a alma do justo se lapida...
BOTE A LUZ DO PERDÃO EM SUA VIDA
QUE A TREVA DO ÓDIO SE DESFAZ.

É preciso viver sem toxina
E trocar ódio, a mágoa e o rancor
Pela paz, a bondade e o amor
Como a bula de Cristo nos ensina
Pois a vida da gente é pequenina
Neste mundo inconstante dos mortais
E o castigo das chamas infernais
Para a alma é um beco sem saída...
BOTE A LUZ DO PERDÃO EM SUA VIDA
QUE A TREVA DO ÓDIO SE DESFAZ.

Perdoar é livrar-se do restolho
Do rancor, inimigo do perdão,
Não procede essa lei de Talião,
A de dente por dente, olho por olho
Pois a vida que existe num piolho
É mesmo nos outros animais
Porque Deus criador, e Pai dos pais
Jamais erra no peso ou na medida...
BOTE A LUZ DO PERDÃO EM SUA VIDA
QUE A TREVA DO ÓDIO SE DESFAZ.

Quem ao próximo se nega perdoar
Cobre a alma com o mais escuro véu,
Se acaso morrer e for pro Céu
Vai ouvir Jesus Cristo lhe falar
Você veio pro Céu, mas vai voltar
Porque Deus não lhe dá credenciais
E o seu nome não consta dos anais
Da história por Ele redigida...
BOTE A LUZ DO PERDÃO EM SUA VIDA
QUE A TREVA DO ÓDIO SE DESFAZ.

O perdão afugenta qualquer dor
E nos acalma melhor que um chá de ócimo
Quem de fato perdoar o seu próximo
Tá vestindo a camisa do amor
E quem se livra do ódio e do rancor
Se aproxima de Deus cada vez mais,
O seu corpo repousa sob a paz
E sua alma se sente preenchida...
BOTE A LUZ DO PERDÃO EM SUA VIDA
QUE A TREVA DO ÓDIO SE DESFAZ.

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Autor: Vicente Reinaldo

HAICAIS DIVERSOS - Vicente Reinaldo

Amigas e amigos, quero lhes esclarecer que não tenho habilidade em fazer Haicai, mas me decidi embarcar nesta aventura poética, e estou publicando aqui, os meus primeiros Haicais, e peço-lhes a gentileza de me avaliarem. Podem opinar à vontade, mas se quiserem criticar, que o façam com dicas e exemplos, para que eu possa corrigir os possíveis erros, que por ventura, haja cometido. Ah!, Sei que o Haicai não necessita de título e nem de rima. Mas, talvez, por eu ser Poeta-repentista, não consigo me livrar das rimas, por isso fiz os Haicais, rimando o primeiro verso com o terceiro e deixando o segundo verso livre. Sobre este item, peço que não deem opinião, pois, eu não consigo conceber poesia sem rima... Vamos aos Haicais.

HAICAIS DIVERSOS
              1
      A saudade traz,
Lembranças da juventude
    Que não volta mais.
              2
       Na anosidade,
Todas as coisas parecem
    Ficar pela metade.
              3
    Abelha sem ferrão
E, roseiral sem espinhos;
   Não têm proteção.
              4
     Carinhosa dama
E, coberta nova e macia,
   As quero, na cama.
              5
 Chamei: Dona Naza!
Ela não me respondeu;
Não estava em casa...
             6
   Eu gritei: Maria!
Continuou o silêncio;
 Acho que dormia...
             7
       Neve na Serra,
Relâmpagos e trovoadas...
     É chuva na Terra.

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Autor:Vicente Reinaldo

Beira-mar letrado - Vicente Reinaldo