Recebi pelo correio
Carta de um hospital
Dizendo ser de um cliente
Dizendo ser de um cliente
Que passava muito mal
Do qual eu já tinha lido
Do qual eu já tinha lido
O seu nome em um jornal.
Dizia: caro poeta
Só você que tem memória
Pode transformar em versos
Pode transformar em versos
Minha fracassada história.
Meu destino veio traçado
Com a minha formação
O ventre que me gerou
O ventre que me gerou
Foi vítima da traição
Fui maldito desde o dia
Fui maldito desde o dia
Da minha concepção.
Passei por cima da pílula
Fui gerado em desconforto
Minha mãe tomou remédio
Fui gerado em desconforto
Minha mãe tomou remédio
Pra ver se eu nascia morto.
Vim ao mundo por acaso
E não conheci meus pais
Fui jogado em um cerrado
Fui jogado em um cerrado
Em pedaços de jornais
A polícia achou-me quando
A polícia achou-me quando
Procurava marginais.
Alguém de mim tomou conta
Me fazendo uma esmola
Me criaram como filho
Me criaram como filho
E me botaram na escola.
Não quis saber de trabalho
Estudar não dei valor
Sempre desobedecendo
Ao meu superior
Batia nos meus colegas,
Xingava meu professor.
Peguei o vício da droga
Junto com a curriola
Já fumei erva maldita
Mesmo dentro da escola.
Fui expulso do colégio
Por traficância ilegais
Desonrei uma menor,
Fugi da casa dos pais
E parti para a pesada
Num grupo de
marginais.
Não conto tudo a muito
Porque meu tempo não dar
Não quis nada com trabalho
Meu negócio era roubar.
Na vida de assaltante
Todos temiam a mim
Fui terror da noite escura
Fiz tudo que fui ruim
Um germe assim como eu
Só presta levando fim.
Sempre fugindo de cerco
E matando de emboscada
Seduzi muitas donzelas
Fiz assalto à armada.
Naquele mesmo lugar
Onde eu fui encontrado
Pala ronda da polícia
Há muito tempo passado
Me escondo dum assalto
Por ela fui baleado.
A bala entrou no meu peito
Me feriu no coração
Já fizeram muito esforço
Mas não tenho salvação.
Não te escrevo mais porque
Minha vista está tão pouca
Falar também eu não posso
Minha garganta está rouca:
Termino a cata botando
Muito sangue pela boca.